PARA JOSE SERRA, BRASIL FAZ FILANTROPIA COM PARAGUAI E BOLIVIA

Por:
Fernando Taquari, de São Paulo

Publicado el 01/08/2010

 "Não tivemos uma política de negócios. Com a China, nós só fizemos concessões. Estamos fazendo filantropia com o Paraguai e a Bolívia. Só me pergunto porque não com o Sergipe e o Piauí". Foi assim que o candidato à Presidência pelo PSDB, fez sua mais alinhavada crítica à política externa do governo Luiz Inácio Lula da Silva desde o início da campanha. Serra estava num encontro com empresários em São Paulo e referia-se ao acordo entre Brasília e Assunção em torno da energia produzida pela usina hidrelétrica de Itaipu.

 

 

 

Durante o encontro, o tucano avaliou que ações do governo Lula no setor nos últimos oito anos atenderam apenas aos interesses de uma ala do PT. As políticas adotadas, segundo disse, não resultaram em acordos comerciais com outros países, sobretudo da América do Sul, e ainda promoveram a aproximação com "ditadores". Como exemplo, citou o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que, no ano passado, duvidou da existência do holocausto.

 

 

 

"O Brasil já paga uma tarifa para a energia paraguaia que não é consumida no Paraguai e que é o dobro da que paga para a Itaipu brasileira e ainda querem aumentar mais. Isso é um lance político. Creio que haja outros lances políticos mais adequados para os dois países", argumentou.

 

 

 

Para Serra, o Brasil também poderia ter evitado o rompimento das relações diplomáticas na semana passada entre Colômbia e Venezuela se não tivesse dedicado muito tempo ao Oriente Médio. Em seguida apontou a artilharia contra o presidente venezuelano, Hugo Chávez, a quem acusou de abrigar membros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

 

 

 

"É inegável que o Brasil sempre teve mais simpatia pelo Chávez, que abriga as Farc. Se tivesse gastado a metade do tempo que gastou com o Oriente Médio, de forma simbólica, poderia ter evitado essa situação", acrescentou. Os laços entre os dois países sul-americanos foram cortados depois que Bogotá acusou Caracas de abrigar guerrilheiros das Farc em território venezuelano.

 

 

 

Ao falar sobre direitos humanos, o tucano defendeu que a diplomacia brasileira poderia aproveitar a proximidade com Cuba para ajudar nas negociações em torno da libertação de presos políticos na ilha. "É amigo de Cuba? Tudo bem. Mas então use isso para soltar os presos políticos."

 

 

 

Serra participou de um almoço com 497 empresários e cerca de 100 jornalistas, de acordo com a organização do evento. Na vez da candidata Dilma Rousseff (PT), compareceram 487 empresários e apenas 50 jornalistas. Assim como a candidata do PT, os líderes empresariais também questionaram o ex-governador sobre a atuação do Movimento dos Sem-Terra (MST) em um eventual governo do PSDB.

 

 

 

O tucano garantiu que, se eleito, não vai destinar dinheiro para ONGs que repassam os recursos ao MST. Disse ainda que se Dilma vencer a sucessão presidencial, as invasões de terra vão aumentar, já que o líder do movimento João Pedro Stédile teria declarado apoio à candidata petista.

 

 

 

"Com ela (Dilma), eles podem fazer mais invasões e mais agitações", declarou Serra, que classificou o MST como um movimento de acumulação de forças revolucionárias sem interesse em ajudar a promover a Reforma Agrária. Essa não foi a única vez que o tucano aproveitou o seu discurso para alfinetar sua adversária. Antes ele já havia ironizado Dilma ao lembrar que, em entrevista à "TV Brasil", a ex-ministra teria dito que a carga tributária no Brasil não é tão alta quando comparada com outros países.

 

 

 

"A assessoria dela esqueceu de avisar que o Brasil tem que ser comparado com outros países em desenvolvimento, e não com a Suécia", observou, ressaltando que os impostos altos devem ter como contrapartida serviços básicos de qualidade. Ao concentrar as críticas ao governo federal, reclamou do loteamento de cargos públicos, principalmente no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e na Infraero.

 

 

 

Serra ainda cobrou uma política econômica integrada. "Você não pode ter um governo funcionando bem na economia, com o pessoal que é durão na política monetária, outro que é o Papai Noel do gasto e outro que é o leão da arrecadação. Cada um jogando por si", afirmou.